quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Francês bacalhau

De igual modo, no fim da ceia,
Tomou o cálice e disse:
"Irmãos, pior que a traição que, contra mim, vão cometer,
Ou que a cruzeta que de mim vão fazer,
É passar um mês sem f**er..."

Ah, mas o que é isto? De onde é que desenterraram esta gente? A sério! Até dá pena. Chegam cá, sempre todos "espampanantes", com vocábulos todos esquisitos, e porque "lá na frronce isto era diferrente e tal, bah oui, la rochelle...".
Falemos mais calmamente, e em pormenor. Havendo excepções, de gente a quem não denotamos este tipo de comportamento algo esquisito, há uma grande meche de pessoas que re-invadem o nosso canteiro à beira-mar plantado em pleno mês de Agosto. Trazem consigo um rasto de balbúrdia e outras coisas com o seu quê de esquisito. Falo de uma grande porção dos emigrantes portugueses na França, a que chamarei, por originalidade, já que pouca gente lhes chama, os avecs.
Chegam eles. Nos seus carrinhos com matrícula estrangeira (alguns com aspecto de que só saem da garagem uma vez ao ano). Aqui em Portugal parece que as leis são diferentes das deles. Mas não dos franceses nativos. Digo isto porque deparo-me com certas "boladas ao poste" no domínio do trânsito de veículos automóveis, envolvendo carros com matrícula traseira amarela. Mas, visionando o interior, lá estão uns traços tipicamente portugueses.
Sim, porque não dá para enganar. Eles até vêm com um idioma que, deve ser novo, pois os nativos franceses até lhe chamam de "francês bacalhau", que ninguém percebe. Como naquela anedota, do Michel que "tu vas tomber!". Às tantas o Michel tomba mesmo e a mãe, num jeito muito ibérico, repreende-o com palavrões em bom português. Aos que não denotamos traços portugueses, que até, de cara, passavam por nativos gauleses, não lhes escapa o estilo específico de uma moda bem esquisita a que apelidamos de "pseudo-guna".
Certamente já nos deparámos várias vezes com tais personagens. Coleccionando pequenas e insignificantes complicações esquisitas, sempre acompanhadas com a sua expressão e reacção de como se na França não fosse assim.

Talvez se entenda como um expoente, tal episódio que passarei a narrar: Numa viagem de turismo laboral, três portugueses em negócios instalam-se numa pensão com gerência portuguesa na pradaria parisiense. Ao passear no tempo morto de tal estadia, entram num café típico português. A recepção soube a casa com o ambiente caracterizado pelos diálogos dos presentes em língua camoniana corrente. Fechando os olhos, cheirava a Porto, Coimbra, talvez mesmo Braga ou Viana - Portugal. Subitamente, ao ser de conhecimento geral a presença de três conterrâneos, não emigrantes, mas sim turistas, a língua predominante alterou-se para o tal francês bacalhau. Episódio verídico e, com todas as letras, curioso. Qual seria a filosofia? Qual seria o objectivo? Era assim algo tão importante nos diálogos de cada grupo que os forasteiros não pudessem saber? Sentir-se-iam superiores por falar francês bacalhau em vez de português ao invés dos forasteiros?

Enfim. Ressalto isto, que decerto muitos do vós já repararam numa grande quantidade de emigrantes portugueses na França. Uma certa arrogância, tentativa de se destacar, dar nas vistas e parecer superior. Chega a roçar a má educação. O que é esquisito para quem quer parecer francês, quando o nativo deste país é, regra geral, educadíssimo, simples e prestável.

Continuamos com o barulho incómodo a altas horas da noite, dispêndio de tempo aos comerciantes para não lhes comprar nada, gaffes na condução de automóveis, episódios insólitos com nativos portugueses, etc, etc.

A todos eles desejo toda a sorte do mundo. Levam consigo esperança, alma lusa, Tony Carreira e muitas saudades. Procuram melhores condições. Obtêm-nas. Só que alguns chegam e mostram que nos envergonham com o seu feitio. Para além de que (e isto é só pessoal), na maioria das vezes em que se expressam com a cor clubística, são sempre do Sport Lucílio Benfica.

E mais não digo...

Je sei je sei
Qu'és a linda porrtugaise
Avec qui je veut caserr
Já corri monde...