segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Visca Farça!

Hoje é quase um sacrilégio negar que o FC Barcelona dos últimos anos é a melhor equipa de futebol da história. Igualmente para a negação de Lionel Messi como o melhor futebolista da história. São duas verdades que o mundo dos pacóvios do futebol não têm problemas em manter vivas. Lembro-me de um Maradona que que, sozinho, levava Argentina e Nápoles às costas para grandes e inimagináveis vitórias. Mas o melhor de sempre é Messi, que não leva a Argentina a lado nenhum e sem Xavi e Iniesta não vai, ele próprio, tão longe quanto se pinta. Ainda bem, porque uma equipa vale pelo seu todo.

A fama, quando favorável, lá traz o seu andarilho, de vez em quando, catapultando um clube para o apoio incondicional da opinião pública em geral. Hoje, em Espanha, um benefício ao Real Madrid - onde José Mourinho faz da arrogância para o exterior uma das suas maiores forças (como sempre o fez) - "faz cair o carmo e a trindade". Um benefício ao Barcelona é "manha" dos seus jogadores. Neste fim-de-semana, a vítima foi o Atlético de Madrid. Messi marca de livre, bem executado, mas num momento em que o árbitro não apitara, a barreira adversária estava ainda a formar-se e o guarda-redes colchonero estava encostado ao poste, a orientar. Não gostei muito quando, há uns anos, o FC Porto o fez ao Arsenal, muito menos gostei agora. Mais: os jogadores da capital queixam-se de uma mão de Busquets dentro da área, escandalosa, mas que só o árbitro não viu.
Eu ainda sei de mais histórias. Como trilhou, afinal, este Barcelona o seu "caminho para a eternidade"? Na Liga dos Campeões do ano de 2009, só o árbitro não viu um penalty escandaloso de Piqué, por mão, contra o Chelsea. Chegava para os ingleses eliminarem o Barcelona. Ao invés, estes foram até à vitória na final "com o melhor futebol", "sem dar hipóteses" e com "Messi em grande e decisivo". Em 2011, o Arsenal vê van Persie ser expulso por uma infantilidade... mas do árbitro que sua. Todos se lembram do pobre coitado a queixar-se que não tinha ouvido o apito, sendo expulso por seguir jogo após esse dito apito. O Arsenal, com 10, viu, assim, cair a sua vantagem da primeira mão, para o Barcelona seguir em frente e ser campeão europeu, de novo. Em 2011, em Agosto, a coisa tornou-se pessoal. Na Supertaça europeia, completamente seco pelo Porto durante grande parte do jogo, o Barça lá chega a um golo por desconcentração dos portugueses. Um penalty perdoado (o treinador do Porto viu 2) e duas expulsões (uma delas mal ajuizada) depois, os catalães lá resolveram o jogo.

Aí estão, casos que dão pano para mangas. No entanto, para a história ficam queixas de uma certa eliminatória com o Inter, em 2010, que ainda não percebi se mandam vir por critérios de arbitragem, o estilo de jogo dos italianos ou algum azedume resultante do resultado que ninguém desejava. Eu vi um Inter ganhar justamente em casa e, privado de menos um por uma expulsão (mais uma) mal ajuizada, defender o resultado conforme pôde (num estilo do qual não gostei).
Isto tudo, para dizer que, na boca de quem comanda as opiniões, formou-se a opinião de que esta equipa deveria reencarnar o romantismo do "futebolês" e reduzir tudo o resto a paisagem. Sim, jogam bem, mas quantas vezes não lhes foi aberto um "caminho opcional", como neste fim-de-semana se viu? Quantas vezes as atitudes anti-desportivas e violentas dos seus jogadores não foram apelidadas de "raça" e "mística"? Quantas vezes o Messi não usa a sua carinha de santo para se escudar num proteccionismo (sim, porque o Ronaldo, sendo parolo, vai sozinho contra tudo e contra todos que o gostam de denegrir)?

Perante isto, choca-me o "portuguesismo" de muitos, que começam a torcer por um clube estrangeiro, porque joga bem, sim, mas, principalmente, porque está na moda - são mais cabeças ocas a esconder a verdade. E ainda dizem "não vejo jogos da nossa liga porque, o que importa, é ver o Barcelona". Gritam golos do Barcelona, mesmo contra equipas com portugueses em campo. Eu sou português e o meu clube é só um e do nosso país (no meu caso, é o FC Porto). Quando uma equipa por essa Europa se destaca com um futebol que marca uma era, passa para a lista dos rivais da minha, pois quero sempre que a minha seja a melhor equipa do mundo (algo que tem acontecido, para meu bem, como adepto de futebol). Não mudo as minhas cores clubísticas ou regionais.

A melhor equipa que vi jogar (em arquivo) foi o FC Porto de finais da década de 80. Pedroto e Artur Jorge (depois ofereceram a Ivic) contruíram uma equipa caseira, raçuda (no verdadeiro sentido) e com mística, capaz de desmontar os adversários com futebol rápido e tricotado, espoliada em Basileia a favor da Juventus do Platini (quem havia de ser) e que deixou o Bayern Munique completamente perdido em 3 minutos mágicos protagonizados por Rabbah Madjer, na noite inesquecível de Viena. O melhor jogador que já vi jogar (também em arquivo) foi Diego Armando Maradona. Se Messi é genial, Maradona foi... Deus, feito jogador, descido à terra. E mais não tenho a dizer sobre as minhas admirações.

O Barcelona de hoje são 20 e tais jogadores, numa estrutura forte e numa super-equipa com um valor tremendo. São a melhor equipa, sem dúvida, e merecem destaque pela era que marcam. Mas, das poucas maneiras de os derrotar, têm havido ajudas para toldar essas vias. É algo que falaciosamente tenta catapultar esta equipa para uma eternidade falsa. Mas, cabeças ponderadas, não esquecem a pequena, mas preponderante percentagem de farsa.

P.S.: eu sei que se escreve farsa, e não farça. Foi só um trocadilho.