quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Sempre a dar gás...

Vamos desenhar um tracinho horizontal a meio da Europa, de forma a dividi-la em 2. Mais coisa menos coisa, em cima irão ficar os nórdicos e, em baixo, irão ficar os parolos dos latinos.
Lá estou eu a ser muito brusco. Mas não tremendamente brusco, convenhamos. Nós, latinos, somos mesmo uns parolos. Pronto, os suíços só ficam abaixo da linha em termos geográficos e os britânicos são parolinhos de vez em quando. Estereótipos fora, há muitas coisas que nos separam dos nórdicos. Não podemos dizer que eles são os maiores sem excapção, pois os 2 maiores animais que eu já vi eram oriundos de uma região acima de linha imaginária que sugeri - falo de Hitler (Áustria) e este panão norueguês o Breivik.

O que atrai mais nesse grupo de países é o civismo. Como é que há pessoas que conseguem viver como eles? Quer dizer, assim é que está correcto, mas, habituado aos nossos parâmetros, como é possível?

Como é que, em países dessa zona, se anda numa estrada com limite de 50 km/h de velocidade e ninguém anda a 55, ou 60, ou 70? Isso era impensável em Portugal... Eu, se for numa estrada que marque 70, e não ultrapassar os 75 km/h, logo vem um indivíduo com cara de pau, que acelera agressiva e vigorosamente a sua Seat Leon ou o seu Opel Corsa (estereótipos) e me ultrapassa com cara de mau, como quem diz, "não andas nada e o meu carro é o maior". Supostamente, eu é que vou a agir correctamente, mas o gajo é que é o rei, porque não está para gramar os limites de velocidade e quer mostrar que o seu carro da moda é que é... Mas será que o gajo dorme na cama com o carro e se sente excitado quando lhe acelera e fica agressivo? Eu assim fico, mas com a agressividade e vigor da minha mulher, quando se sente na posição de defender vigorosamente uma causa que lhe assista. Mas é uma mulher... Parâmetros diferentes.
Isto é só um exemplo na estrada, onde os portugueses, mais propriamente, não fazem por menos. Ele é speed nas passadeiras para passar naquela fracção de segundo em que começa o vermelho, a grande maioria dos taxistas a "assapar" porque faz parte da profissão deles andar rápido e têm sempre razão porque eles são os senhores das estradas, o inteligente que começa a deixar andar o carro quando o sinal vermelho dos peões começa a piscar, de forma que, quando chega o verde, já quase passou os semáforos, o autocarro, camião ou máquina agrícola que, normalmente na EN, nos tolda uma viagem calma... Acontece que há países, onde os limites de velocidade são cumpridos, faça a fila de trânsito que fizer, a prioridade dos peões nas passadeiras é respeitada, a segurança no trânsito urbano é uma prioridade e os veículos lentos até encostam à direita e param para deixar passar a fila de trânsito atrás deles. Onde é que isso seria concebível neste futuro país de escritores brasileiros que conhecemos.

Outro dos grandes estereótipos é o trabalhador do Estado. Há excepções, felizmente, excelentes excepções, mas, pensem lá, que ideia é que temos de um trabalhador de Estado? Sorridente como um sapo...
As forças de autoridade aqui são a última saída para os nossos problemas. Telefonamos a dizer "fui assaltado", perguntam a morada, só sabemos a rua, mas retorquem a pedir a morada completa... Grande ajuda. Se queremos encontrar um polícia, só se for em ruas apertadas onde sabemos que estão à procura de carros mal parados para passar uma multa. Ou, então, estão escondidos num sítio qualquer e, quando ouvem um motor a fundo, saltam com a raquete para mandar parar para nos medir a velocidade, álcool e afins. Vamos à esquadra pedir ajuda ou fazer uma queixa e o tom de voz é igual, seja acusador ou arguido. Uma pessoa chega lá toda "acagaçada" porque foi assaltada e fica a pensar que ainda vai preso. Isto admite-se? Sim, porque noutros locais, os polícias sinalizam a sua presença, de modo a que as pessoas até se possam dirigir a eles para pedir informações ou fazer queixas e, de forma simpática (o que, caso não saibam em Portugal, ajuda a vítima a manter a calma), tentam dar o seu contributo à causa. E a sua própria causa colectiva não se fica pelas multas de trânsito.

Outro (e último) ponto. Hospitais. Aqui vamos ao hospital, ficamos ainda mais doentes com o serviço de recepção e quase que morremos com o ambiente na sala de espera (e com a espera em si). Em muitos sítios parece um purgatório para a morgue, tal é o jeito com que os recepcionistas nos recebem como se estivessem a falar com um aspirante a morto e o ambiente febril de mais na sala. Porque é que um recepcionista não tenta acalmar o utente de hospital quando este chega atarantado com um problema. O normal é ver-se uma pessoa com cara de mal-disposto, esperando que o dia acabe mal entra para o serviço, com alguma simpatia medida às décimas... Porque não uma pessoa dedicada, bem-disposta, que nos minimize a preocupação e nos faça sentir em boas mãos? E, quanto aos utentes, porque há-de uma sala de espera estar sempre tão cheia? Sim, quem vai a um hospital sente-se mal e tem que ser tratado. Mas, há muita gente que vai a um hospital por uma pequena dor no pé, um pequeno golpe não sei aonde, etc. Tudo coisas que, em certos países, as pessoas recebem formação para tratar disso em casa. Assim, neste país à beira-mar plantado (e a afundar-se) uma pessoa com uma dor agressiva tem que esperar atrás dos que estão lá por uma constipação (também já há a triagem de Manchester) e não fica com boas perspectivas, tal o modo como o recebem. Países há (lá estou eu de novo) em que os recepcionistas nos fazem sentir em casa e em que, curiosamente, as salas de espera dos hospitais têm uma lotação consideravelmente menor.

Há excepções a tudo isto, felizmente, mas continuam a ser poucas. A verdade é que o civismo vem da mentalidade das pessoas e é pena que gostemos de copiar os Swatch's e IKEA's, mas não copiemos aquilo que esses povos têm mesmo de valor - os seus valores, por assim dizer, e uma mentalidade mais social e, até arrisco, avançada, que faz uma cultura funcionar melhor de forma colectiva, ao invés de uma mentalidade individualista, sempre a tentar safar o seu "cuzinho", mais conhecida como mentalidade do português.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Póvoa do Vazio

Eu, que até estava a ficar melhor da minha cabeça, lá calhei aqui outra vez - perdi o juízo. Estava tão bem sem me meter nisto e, agora, volto a mexer nesta m*rda deste blogue que não interessa a ninguém.
Vamos só delinear uma coisa bem clara. Este blogue já provou - ou pelo menos tentou provar - que é português (e portista) da cabeça aos pés. Aqui escreve-se na língua de Camões, e não de Jorge Amado. Porque, para escrever em português do Brasil, prefiro antes escrever em inglês. Com todo o respeito aos nossos irmãos da "Ordem e Progresso". Mas esta mixórdia a que chamam Novo Acordo Ortográfico (NAO) não mais é que mais uma manobra de facilitismo, uma Novas Oportunidades para escrever em português falcatruado. É que, ou eu estou a entender muito mal, ou as consoantes que se vão deixar de usar - consoantes mudas, chamemos-lhes assim - tinham uma função tónica na palavra. Assim, se respeitássemos a devida acentuação de uma palavra, ao chegarmos a um estabelecimento alberguista, iríamos dar de caras com a palavra "receção" e, respeitando a acentuação, leríamos recessão. O que prova que este país está mesmo em recessão em todos os sectores, principalmente no da própria identidade. Mas isto sou eu que, à beira de muitos, pouco percebo do nosso português. Se não tiverem arranjado um NAO para o dialecto mirandês, aprendo esse e utilizo-o no blogue.


Vamos ao que não interessa. As histórias que contarei a seguir, passaram-se numa povoação (ou póvoa) que fica em território minhoto mas está incluída no Douro Litoral. Lá, a fé move uma cidade inteira, chamando também a atenção de turistas de um pouco por todo o lado para assistir às suas estonteantes e mega procissões solenes. A fé leva crentes de todo o concelho a seguir a formação descalços, de joelhos ou debaixo de andores.

Há poucos dias, celebrou-se mais uma festividade santa na região - uma longa procissão. Foram quase 45 minutos à porta da igreja à espera, sem o sino deixar de repicar, ecoando na alma de cada presente. A sério, o sino não se calou até à procissão já estar a quase 1km, não dando espaço a qualquer outro tipo de som ou descanso auditivo. Seguiu, durante quase 2 horas, pelas ruas da cidade, fazendo longas paragens sem explicação - talvez fosse trânsito, cansaço, problemas na segurança dos andores...
Quase a chegar ao fim, na última grande recta (claro, o sino ligava outra vez os motores sem parar), surge uma cena algo desagradável. Uma mãe, conduzindo um carrinho de bebé, tenta arranjar a melhor maneira de se desfazer da multidão de crentes, para seguir o seu caminho. Podia esperar? Talvez. Podia ir por outro caminho? Podia. No entanto, escolheu desenvencilhar-se pelo meio da procissão, só uns segundos a perfurar a formação, tentando incomodar o mínimo. Logo se elevaram as vozes típicas de um estereótipo (mal criado na minha ideia) de peixeira a mandar vir e insultar com a senhora. As mulheres que fazem os quilómetros todos de todas as procissões, supostamente por uma razão de fé por aquele que disse um dia "aquele que nunca pecou que atire a primeira pedra", são as primeiras a disparar os calhaus. Um sinal de canalização do calor humano e reactividade nortenhos para a linchação pública de um terceiro, não tendo respeito pela ocasião da qual se declaram devotos. "Ai de quem disser mal da minha Nssa. Sra. de Não Sei o Quê, que morre!".
No entanto, o reverso da medalha também acontece, na mesma cidade, embora numa festividade diferente. Aposto que mais de metade dos crentes da história que acabei de contar, também estavam presentes nesta próxima. E trata-se da mais longa procissão da região. Quase mais que 2 horas de caminho, num dia em que, por coincidência, a selecção portuguesa jogava, na África do Sul, a sua continuidade no Campeonato do Mundo de 2010. Algo de esquisito se passou nos últimos quilómetros da procissão quando, com a proximidade ao evento desportivo, a passada acelerou de forma retumbante. Então, na terra em que os devotos defendem em pé de guerra as suas manifestações de fé, decidiram despachar esta na proximidade de um jogo de futebol. Constata-se talvez um desiquilíbrio no trinómio Fado-Futebol-Fátima, com benefício do segundo e prejuízo do terceiro. Então, minhas senhoras? Que é da Nssa. Sra. dos Quilómetros agora? Já não interessa palmilhá-los do início ao fim de forma temerosa e paciente? Quando os outros desrespeitam são mal-educadas e, agora, são as primeiras a desrespeitar?


Pois, acontece, isto tudo passou-se. A igreja católica define que as procissões de fé não devem ter mais que uma hora e meia. No entanto, em muitos sítios, abusa-se. Neste em concreto, até violentos são quando aparece uma voz dissidente. É um podre de um povo que apenas vê em frente, e apenas uns centímetros, sem visão para ver à volta. Dois exemplos, de má-educação e hipocrisia, de quem se acha temeroso por fazer quilómetros chatos, quando há procissões curtas que levam mais fé cristã. É um desrespeito por quem, por exemplo, morre nestas ocasiões, como se passou na Páscoa de 2011. Vivemos num país onde o povo pode ser cego por dogmas de incultura, só porque se fazem há gerações de uma forma, recusando-se a mudar. É pena que isso aconteça também nas manifestações de fé cristã. Faz-nos perder, também, a fé Lusa...