sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A República dos Nabos

Nós somos uma vergonha. O país, os portugueses (hoje), quem os governa, o que aqui se produz, resumido numa só palavra - vergonha. E não me lamento de ser duro em nenhuma palavra. De vergonha em vergonha, passamos pelo governo, seguido do governo, com mais governo, pela comunicação social, pela revista Sábado... Sim, porque há que distinguir a comunicação social e os média da revista Sábado, estes devem ser mais merdia. Quis chamar-nos a todos de burros com um inquérito todo "pi-pi", mas com critérios questionáveis. Diga-se, foram entrevistar 5 ou 6 alunos da turma que entrou num curso superior com as notas dos exames de religião moral, só pode. Quer dizer, o que havia para esconder, de modo a ter de se colocar uma amostra tão pequena de inquiridos?

Não me querendo armar em revista Sábado, desafio qualquer um dos leitores a fazer o seguinte: experimentem perguntar a qualquer miúdo quem é (ou quem foi) Luís de Freitas Branco. Ou Camillo Castello Branco. Certamente, ao primeiro, respondem prontamente que é um comentador de futebol e ao segundo respondem que é um paneleiro qualquer todo pintado a viver às custas sabe-se lá do quê, porque não tem aspecto de quem trabalhe. Pior, se optarem por perguntar quem foi Domingos Bontempo, Júlio Dinis, Júlio Pomar, Barata Feyo... Pois, aí a coisa complica-se. Caminhamos para que ninguém se lembre, um dia, de quem foi Camões. Talvez seja reconhecido como uma gíria para carros sem um farol funcional, no máximo.
A crise de que todos nos queixamos não tem solução. Isto, porque uma das suas várias vertentes, talvez a essencial, é humana. Não há cultura em Portugal. Ou, a pouca que há, está pelas horas. As pessoas gostavam de chamar parolos aos desgraçados de zonas rurais que, bem vermelhinhos, se juntavam ao som de um acordeão a mandar bocas foleiras e a passar bons tempos. Pois parolos, são os portugueses normais. O símbolo disso tudo? Não, não é o Tony. É toda a família Carreira. As duas jovens cópias rascas do Enrique Iglésias e a cópia rasca de um ror de músicas, que é o pai. Mentalizem-se, essa gente não simboliza música. Talvez aquelas bandas de baile, que fazem autênticas tournées de Verão em festitas engraçadas, possam ser um ar do Portugal profundo tradicional. Mas, um bando de ganapos e o seu pai, que Deus os tenha, com um repertório pimba, tratados e louvados como estrelas do melhor rock? Nem pensar.

O nosso país ainda vive uma mentalidade "abrilista". E em que consiste? Vá, a Revolução de 25 de Abril, como dizem os comunistas com alguma razão, começou mas não terminou. Cessou um regime totalitário, para, após um governo militar de transição, se passar o país para as mãos dos boys, que fugiram às obrigações da Pátria (ainda que mal designadas) e voltaram depois da Revolução, aclamados como heróis. Os boys que nos meteram na UE (CEE) para ganharmos vícios de gasto, e agora não sabem cortar a esses vícios, quando não os podemos suportar. A mentalidade deles nunca passou por soluções para os problemas complexos que surgem sempre, mas, somente, ruptura com o passado. Ruptura é a palavra de ordem de Portugal. Rompeu-se com tudo do passado, bom ou mau. Heróis, génios, lições que a História nos deu, a nossa própria origem. Passou a ser chato apreciar arte, é bom é ouvir o comercial. História de Portugal é chata, já não interessa saber quanto sangue jorrou para sermos uma Nação autónoma, sei lá quem foi o Infante D. Henrique. O que é importante é ter um feriado para a República, a nossa Fundação e a Restauração da nossa Independência que se danem.

Portugal é um país riquíssimo na sua alma. Querem um herói digno de Hollywood? D. Nuno Álvares Pereira, D. Afonso Henriques, Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral... Querem um génio musical? Domingos Bontempo, Carlos Seixas, Luís de Freitas Branco, Jolly Braga Santos, Fernando Lopes Graça... Querem um génio das artes plásticas? Amadeo de Souza-Cardozo, Júlio Pomar, Júlio Resende... Querem um génio da literatura? Pascoaes, Eça de Queiroz, Júlio Dinis, Camillo Castello Branco, Fernando Pessoa, Almeida Garrett... Até mesmo no futebol, a religião nacional, vivemos com a História confinada ao Eusébio, quando eu, que falo pelo clube que venero (o FC Porto) posso ainda falar de Pinga, Virgílio, Barrigana... E nunca os vi jogar, fazem é parte de uma rica História e qualquer outro clube também os tem mais.

Vamos rompendo com o passado, porque é norma fazê-lo e porque a linha cronológica que para trás fica vai passando de moda. Portugal vai morrendo e os cortes que se fazem passam sempre pelas artes, reparam nisso? Os média, o veículo de comunicação, em nada ajudam. Propagandeiam a família Carreira e seus pares, que empobrecem a cultura nacional e, para sabermos de bons concertos e boa arte, temos que procurar no canal com menos audiência (RTP2) - porque será?

Portugal vai morrendo pelo coração, por onde lhe sugam a alma. E nós, alguns que apreciamos arte de uma forma vasta e bem cultivada (porque não se pode dizer somente que o erudito é que é bom e acabou), somos esquecidos e passados para mobília com pó, tenhamos a idade que tivermos. "Nós somos os mortos".

P.S.: é injusto esquecer o Fado, mas há que relembrar que também é do melhor que a Nossa Arte tem. Apesar de a má língua barata falar que a sua distinção recente de património imaterial seja somente para tapar os verdadeiros problemas, eu digo que se vão todos f*der, pois o Fado não tem culpa da crise que cabeças pequenas e corações incultos como esses promovem e expandem. Viva a Nossa Arte Portuguesa.