quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Então pá?

"Eu nasci à Sexta-Feira
De barba e cabeleira
Mais parecia um Anti-Cristo.
Que até o Senhor Padre Cura,
Que é homem de sabedura,
Nunca tal houvera visto..."

Esta já existia. Já é antiguinha. Era coisa que já existia ainda andavam nossos pais de um lado para o outro pelos deferentes. Muita coisa existe e não deixa de existir. Tal como a raça humana. Apesar da teoria que nos vamos destruir uns aos outros... Ninguém para de "dar ao galho" e não param de vir crianças. Mesmo aqui neste pedaço de excremento à beira mar plantado, governado por um bando de outros tantos excrementos. E o que se passa? Muitos desses meninos não podem gastar as energias como antigamente, em que os seus pais os mandavam para o campo trabalhar e para a montanha passear bois e ovelhas, como ainda se faz lá em S. Martinho ou Zezinho ou lá o que é de não sei de onde. Nada disso. Hoje em dia o menino fica em casa até entrar para o infantário. Depois entra para a escola, só faz mer... Pronto, asneiras. Leva reprimenda do professor e no fim os paizinhos vão lá buscá-lo, fazem cara de maus para o docente e, chegando a casa, para o menino ultrapassar o trauma, oferecem-lhe uma playstation. A vida prossegue e, nas férias, o rebento fica dias atrás da televisão a jogar na dita consola. A energia acumula-se e, diz o psicólogo, o puto fica hiperactivo. Ora, que dá aos pais para fazer?
Meter o rapazito na terapia da moda: música. E como "o meu filho é especial", tem que ir para um sítio do melhor. 'Bota meter o ganapo no Conservatório logo para o preparatório.

E, na mui nobre e sempre leal invicta cidade do Porto, houve outrora um palácio transformado num Conservatório, único e prestigiado. Os estudantes que aí andavam respiravam música. Os dias eram passados calmamente ao som da música de estudos, aquecimentos e peças que iam saindo das salas onde se estudava música. A vida ganhava tom mais humano quando os estudantes confraternizavam, criando amizades com as quais se realizavam grandes concertos, que ficavam marcados tanto na memória de quem os fazia como dos espectadores, que eram muitos mais que meramente os amigos e família dos músicos. Desde estágios, a projectos, a audições... O Conservatório de Música do Porto mostrava toda a sua classe.

Até que veio a invasão. Monovolumes cheios de gente com média de idades de 15 anos (devido à presença da mãe ao volante) invadiriam as imediações do palacete. Quando as portas se abriam, dezenas de meninos fardados dos mais variados colégios da cidade invadiam o edifício, uns atrás dos outros, barulhentos e brincalhões como toda a criança deve ser... Mas barulhentos. Seguindo a infantaria, vinha a cavalaria. Quando finalmente os meninos entravam nas suas salas para as suas aulas, os corredores ficavam infestados dos seus pais, não havendo um único canto vazio. Nem sequer os lindos jardins, onde amigos conversavam, casais namoravam, alunos ensaiavam e... Agora os meninos gritavam e atiravam pedras e paus para o lago enquanto seus pais se sentavam a olhar para os lados e para a frente. As audições (de música barroca em especial), que exigiam silêncio, tinham som de fundo de autêntico recreio. Mas os alunos que já lá andavam amavam a música mais que tudo, e nada lhes tirava a concentração e motivação para o que faziam. Até porque ninguém tinha essa intenção.

Vantajosa por melhoria de condições e desvantajosa pelo significado que teve, o palácio iria ser trocado. Uma nova escola iria acolher os aprendizes de música. A única desvantagem mesmo significativa seria a mistura do ambiente harmonioso com a rebeldia de autênticos "morangos com açúcar" da escola secundária que faria paredes meias. Pior para alguns, o ensino supletivo aproximava-se do fim, dando lugar quase exclusivo ao integrado. Era uma nova época a nascer, em que o ensino exclusivo de música certamente iria fazer evoluír a música em portugal. Perdão, esqueci-me que se escreve em maiúsculas. Mas esquecia-se do amor que os do supletivo mostravam e nutriam, mesmo tendo entrado relativamente mais tarde. Esqueciam-se que a maior parte dos grandes músicos veio do supletivo. Esqueciam-se que o conhecimento musical é a coisa mais perfeita do mundo e que todos tem direito a isso.

E a invasão começava assim a consumar-se. O Conservatório, maior, era agora mais barulhento, os empregados não tinham mãos a medir com as crianças e, mesmo com mais salas, os sobreviventes do supletivo quase não arranjavam onde estudar. E, numa questão de dias, os paizinhos já estavam de novo nos corredores da instituição.

Fica assim mais um relato do preço do progresso. Esquecem-se uns como se fossem dinossaurios a abater e fora do seu tempo e elitiza-se cada vez mais este país. Duro, seco e sem piada. É o lado mais sério da má língua. Mas, tal como alguns têm que gramar com tudo, nós também temos que ouvir de tudo. E este texto é dedicado às gentes de Barca - Maia, que ainda assim têm lá um monumento exemplar no exaltamento do país que temos hoje - têm um estábulo de bois. Talvez o seu conteúdo represente os "heróis do mar" que hoje dirigem os nossos destinos.

Era o vinho, meu Deus
(hic) Era o vinho
Era a coisa que eu mais
(hic) Gostava

2 comentários:

nada disse...

ahahahahah...voces falam e falam, mas s.Martinho está sempre presente...e sim é S.Martinho, sabem muito bem o nome, nao adianta estar aí com outras palavras ;);)

ahahahahahah..

Beijinhos*

@shitspeecher disse...

oh filha. 'as tantas e' s. martinho do campo - valongo. oh ve se nao e'... lol