quarta-feira, 8 de maio de 2013

No País do Fado

"Ai o meu triste Fado"... Bem-vindos a Portugal. O país que, antes de entrar na crise, já tinha os cidadãos cabisbaixos e com cara mal-disposta; o país onde um dia de trabalho é passado com um colega a intrigar sobre outros colegas; o país onde, mais que uma crise de corrupção, economia ou política, há uma crise de valores; o país onde qualquer nabo gosta de mandar postas a outros nabos, como se fosse ele o legítimo corrector de costumes (e eu sou um exemplo desses nabos); o país onde, cansados do português difícil de escrever, decidiram optar pelo português da Rede Record, rotineiro nos serões da SIC. E depois, fica esse Fado dos tristes e vítimas, que estão a ser tramados por todos os lados e, mesmo assim, nada fazem para se safarem... Também não quero exagerar, qual Miguel Gonçalves... É o triste Fado com que temos que levar nos programas da manhã com histórias tristes e um investigador jornalista criminal a debitar outras tantas...

Serve isto para falar um pouco da fantochada que tem vindo a haver à volta de um acontecimento para o qual, penso eu, deveria de haver um respeito e privacidade maiores: na passada sexta-feira, na preparação para a Queima das Fitas portuense, foi assassinado um jovem na sucessão de um assalto.
Vamos começar pelo seguinte: em 6 anos de estudante nunca soube para que é que servia a FAP. No máximo, pensei que fossem um interface para a praxe académica sem recorrer ao latim macarrónico... Sei que têm filhos (praxes) e enteados (Orfeão Universitário), sendo que não são parcas as histórias dos filhos a f*derem a vida aos enteados... Mas dou de barato que sou o ignorante que sou e que há coisas que desconheço ou acções da FAP das quais eu até possa ter sido beneficiado. Respeito, assim, quem tenha alguma opinião sobre a dita federação e a exponha, para criticar ou elogiar, consoante os factos reconhecidos e divulgados.
O Marlon foi assassinado, brutalmente, enquanto tentava safar os seus colegas de um assalto com vista à apreensão do dinheiro que ele tanto se esforçou para ganhar num evento para o qual deu o seu tempo para se realizar. Um evento que eu não gosto muito, devo dizer, mas que exige esforço e organização por parte de muita gente. O que acontece? A maior cromalheira com direito a colunas de jornais vem logo acertar o passo à FAP por não cancelar a festa... Preferem continuar as bebedeiras que prestar "respeito" ao falecido...
O que eu tenho a dizer é que esses colunistas (chegou ao ponto de um deles ser o editor de um Jornal de Negócios...) são todos uma cambada de hipócritas... Alguém ouviu a família criticar esa decisão de continuar o espectáculo? Aliás, o devido espaço à família estará a ser respeitado, quando dão a isto uma importância capital desse tamanho? Alguém está a pensar naquilo que o rapaz iria desejar, se pudesse falar? Ele morreu a dar a vida pelo evento e ele sabia que é um antro de bebedeiras. Era o que ele queria e é respeitável fazê-lo. A família terá a sua privacidade para o enlutar e tentar ultrapassar o sucedido, sabendo que conta com o respeito e solidariedade de todos os quantos estarão na festa a honrar aquilo que o rapaz também tinha direito a festejar.

Portugal para para as suas tragédias. Tem todo o direito a fazê-lo, no bom sentido. Mas os "brandos costumes" incitam as pessoas a transformar estes momentos num "muro de lamentações". "Ai meu rico [filho, pai, mãe, etc...]" pelo Facebook com acesso público para qualquer um meter o bedelho; parem o país para a família levar com uma lembrança pública do que lhe causou dor; estamos mal e não andamos para a frente porque aconteceu a tragédia "x"... Por amor de Deus. Morreu-me um ente querido. No dia dos seus anos faríamos um churrasco. Agora não podemos fazer? É um dia para chorar e respeitar, porque na sua eterna morada o que ele quer é que nos ajoelhemos e rezemos 20 avé-marias e mantenhamos o silêncio e choremos? Tretas! Ele havia de querer continuar o churrasco, porque estará um dia bonito, e porque quer ser relembrado assim, feliz, contente e a gozar a vida... Tenho a certeza que o Marlon também quer ser lembrado como um jovem que gostava da festa e que era feliz, ao invés de perpetuar a sua dor em momentos de silêncio ensurdecedor. A verdadeira dor, a mais profunda que a sua família acarretará para todo o sempre, essa nunca desaparecerá. Continuar aquilo que o fazia mais feliz é um princípio para o respeitar e tornar eterna a sua presença. Mas não! Neste Portugal de brandos costumes, conforme vem este cromo expor uma ideia que, pelos vistos, é visão única, todo o cromo, que nem sequer conhece a família ou o rapaz, vem expor a ideia que a FAP é um bando de m*rdas e corruptos, só porque continuam com a festa que este miúdo adorava e se arriscou para que não deixasse de haver... Até afirmam que a festa arrancou na mesma noite, quando sabemos que o incidente ocorreu na véspera do arranque... Enfim, detalhes no país das "verdadeiras 1000 mentiras".

Como diria o outro Marlon, que até era mais Brando, "é tudo uma palhaçada"...

Sem comentários: