quinta-feira, 18 de março de 2010

O Desgraçado

Segue incompreendido o músico.
Tudo na vida é difícil... Menos a música, dizem todos.
"Eu tenho muito trabalho e muito que fazer... Menos tu, que és músico."
Continua, desta forma, a incompreensão do músico. Afinal tudo o que ele tem que fazer é soprar para um tubo, fazer cócegas a umas cordas e mexer os dedos... Ou bater somente nuns tambores. Isso não dá trabalho. Dá trabalho é fazer uns servicitos aqui e ali, quando não se tem aulas na faculdade. Isso cansa e torna-se em algo do género "tenho mais que fazer", para provocar mau estar no músico por não ter assim tanto que fazer. Pois, porque ser professor num conservatório oficial e ter compromissos com quatro bandas não dá trabalho nenhum. Basta chegar lá, dar umas notas e "está a mexer". Isto aliado à história de que "o curso superior de música é que é fácil", que o meu parceiro optou por discutir.

É que uns têm os seus trabalhos da faculdade atrasados porque têm muitos e muitos outros trabalhos. O músico, para além disso, tem aquela actividade simplória - a música - logo não tem direito a ter trabalhos atrasados.
Este espécime, que apenas sopra para uma palhinha ou um tubo ou para uma mixórdia qualquer, tem a única função de entreter o pessoal. Não pode ter sentimentos, não pode ter cansaço, não pode contar com a actividade musical como tarefa que ocupa tempo, nem se pode queixar - é músico, não lhe custa nada.

Música requer alma, humildade e carisma. Talvez seja por isso que, de tão humilde, muito músico se deixe enrab*r. Não há músico apaixonado, herói romântico, rei de uma festa... Há só um vadio que não faz nada na vida e se perde... Na Música.

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